terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

# Homilia da Missa de acolhida do novo bispo auxiliar da Arquidiocese de Olinda e Recife - Dom Antônio Tourinho

24 Feb 2015 | Categoria: Formação Notícias
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Primeiro Domingo da Quaresma
Apresentação de Dom Antônio Tourinho Neto
Santuário Basílica do Sagrado Coração – Salesianos 
Brasão_Dom_Saburido
Caríssimos irmãos e irmãs,
O Tempo da Quaresma que tivemos a graça de iniciar na última quarta-feira com a celebração das cinzas é tempo de escuta atenciosa da Palavra do Senhor que vem nos recordar a história de um Deus que caminha conosco e nos conduz à Páscoa. É tempo de silêncio espiritual, de reflexão e oração, tempo de preparação para o encontro com o Cristo – Ressurreição e Vida Nova.
A liturgia de hoje se inspira na catequese batismal. Sobretudo no passado, a quaresma era tempo de preparação para o batismo a ser administrado na noite santa, na Vigília Pascal. Ainda hoje, esse tradicional costume se mantém com o batismo, sobretudo de adultos, na Missa da Vigília. Nessa ocasião, se faz pelo menos a renovação solene das promessas batismais, seguida da aspersão com a água abençoada naquela ocasião.
As duas primeiras leituras da Missa de hoje fazem referência à Arca construída por Noé, instrumento de salvação para os justos. Estes foram poupados do dilúvio que representava, para os antigos, o desencadeamento das forças do mal. Na primeira carta de São Pedro, conforme a segunda leitura está escrito: “À arca corresponde ao batismo, que hoje é a vossa salvação. Pois o batismo não serve para limpar o corpo da imundície, mas é um pedido a Deus para obter uma boa consciência, em virtude da ressurreição de Cristo”. Jesus é, portanto, comparado à Arca que salvou Noé e os seus das águas do dilúvio. Com Ele somos imersos na água batismal e dela ressurgimos renovados, para uma nova e eterna aliança.
O Evangelho das tentações de Jesus vem em seguida ao seu batismo no Jordão quando foi investido pelo Pai com o título de “Filho Amado”. Nos seus 40 dias de deserto, Jesus resume a caminhada do povo de Israel e antecipa também seu próprio caminho de Servo do Senhor. É o “servo sofredor” de que fala o profeta Isaías. No silêncio do deserto Jesus nos ensina que somente pela força da oração e da intimidade com Deus poderemos vencer o mal e nos posicionarmos definitivamente ao lado do Criador e Pai. As tentações sofridas por Jesus no deserto, especialmente no que diz respeito ao Ter, Ser e Poder, são as tentações dos tempos atuais. Com muita facilidade a pobre criatura humana se deixa levar pela enganosa proposta do dinheiro fácil e abundante, assim como, pelo desejo do domínio sobre seus semelhantes. Não podemos, enquanto Igreja de Jesus Cristo, comprometida com os mais pobres e excluídos, nos omitir do nosso compromisso cristão e sim testemunhar pela vida o que professamos pela fé.
Como nos últimos anos, somos convidados nessa quaresma a trabalhar o tema proposto pela Campanha da Fraternidade. Nesse ano: “Fraternidade: Igreja e Sociedade”. E o lema: “Eu vim para servir” (Mc 10,45). Com essa CF 2015, a CNBB quer mostrar a atualidade dos documentos conciliares que, há cinco décadas, vem ecoando por todos os recantos do mundo.Muito, porém, temos ainda a aprender e aplicar dos ensinamentos contidos nesse verdadeiro manancial. Há 50 anos, os bispos de todo o mundo, reunidos no concílio, nos convocam a assumir como nossas “as alegrias e esperanças, as tristezas e angústias da humanidade de hoje, sobretudo dos pobres e de todas as pessoas que sofrem, pois essas são também as alegrias e esperanças, tristezas e angústias dos discípulos e discípulas de Jesus (GS 1).
“Eu vim para servir” lema da CF-2015, expressa com toda a certeza, os sentimentos do nosso querido irmão de Jequié na Bahia – Dom Antônio Tourinho Neto – que hoje chega para iniciar sua missão como bispo auxiliar desta nossa arquidiocese. Dentre as mais antigas do Brasil, Olinda e Recife tem uma bela história de compromisso missionário, mancada pela coragem de verdadeiros pastores e líderes preocupados com o bem espiritual e social deste querido povo nordestino. Dentre eles não podemos deixar de destacar o 20º Bispo de Olinda – Dom Vital Maria Gonçalves de Oliveira e o VI Arcebispo de Olinda e Recife – Dom Hélder Pessoa Câmara. Ambos falecidos com fama de santidade.
Gostaria, mais uma vez, de expressar a gratidão desta Igreja arquidiocesana pelo corajoso e desprendido SIM do nosso, já tão querido, Dom Antônio Tourinho. Agradecer, igualmente, a sensibilidade do papa Francisco em atender ao nosso apelo. Também a Dom José Rui G. Lopes, OFMCap – Bispo Diocesano de Jequié, que muito nos alegra com sua presença, pela entrega de seu Vigário Geral para o serviço desta Igreja. A partir de agora somos, inevitavelmente, igrejas irmãs e que, coincidentemente, têm Santo Antônio por padroeiro. Agradecer ainda aos seus familiares e amigos que ficarão saudosos deste filho, irmão, tio, primo, amigo e companheiro. Dentre esses, gostaria de destacar a pessoa de sua dedicada mãe, a senhora Edésia Villas-Bôas Tourinho, aqui presente, e seu querido pai que já se encontra na glória de Deus, Senhor Paulo Tourinho Neto. Posso assegurar a todos que Dom Antônio ganhará aqui uma nova e grande família, conforme garante o Evangelho para todo aquele que deixa pai, mãe irmãos e parentes por causa d’Ele e do Reino (Mc 10, 28-31). Não tendo dúvidas que, como em sua terra natal, aqui ele será feliz e cercado de amigos.
É nesse contexto litúrgico quaresmal, portanto, que temos a alegria de apresentar para a Igreja de Olinda e Recife o nosso tão esperado e desejado bispo auxiliar. Ele iniciará o seu múnus pastoral com o retiro espiritual canônico que a partir de amanhã estaremos iniciando em Lagoa Seca, na Paraíba. A exemplo de Jesus que antes de iniciar sua missão retirou-se, durante 40 dias no deserto, conforme o Evangelho de hoje, Dom Antônio estará 4 dias entregue à oração ao lado dos seus irmãos presbíteros e diáconos, reabastecendo-se espiritualmente e rezando por cada um de vocês.
A Constituição Dogmática Lúmen Gentium do Concílio Vaticano II, bastante citada nas reflexões da CF 2015,dedica todo o capítulo III ao ministério episcopal, e assim inicia: “Para apascentar e aumentar sempre o Povo de Deus, Cristo Senhor instituiu na sua Igreja uma variedade de ministérios que tendem ao bem de todo o corpo. Pois os ministros que são revestidos do sagrado poder servem a seus irmãos para que todos os que formam o Povo de Deus e, portanto, gozam da verdadeira dignidade cristã, aspirando livre e ordenadamente ao mesmo fim, cheguem à salvação”. E continua: “Jesus Cristo, Pastor Eterno, fundou a santa Igreja, enviando os Apóstolos, assim como Ele mesmo fora enviado pelo Pai (cf. Jo 20,21). E quis que os sucessores dos Apóstolos, isto é, os bispos, fossem em sua Igreja, pastores até a consumação dos séculos”. A missão do pastor, portanto, nos três graus do sacramento da ordem e, sobretudo do bispo, é apascentar o rebanho do Senhor tendo como modelo Jesus Cristo, o Pastor dos pastores. E nessa missão se preocupar especialmente com as ovelhas tresmalhadas. Recordo as palavras do Papa Francisco no Rio de Janeiro, aos bispos do CELAM. Ele retomou o que teve ocasião de dizer em Roma, aos Núncios Apostólicos, sobre os critérios a seguir ao preparar as listas dos candidatos ao serviço episcopal: “Os bispos devem ser Pastores, próximos das pessoas, pais e irmãos, com grande mansidão: pacientes e misericordiosos; homens que amem a pobreza, quer a pobreza interior como liberdade diante do Senhor, quer a pobreza exterior como simplicidade e austeridade de vida; homens que não tenham psicologia de príncipes; homens que não sejam ambiciosos e que sejam esposos de uma Igreja sem viver na expectativa de outra; homens capazes de vigiar sobre o rebanho que lhe foi confiado e cuidando de tudo aquilo que o mantém unido. Vigiar sobre o seu povo, atento a eventuais perigos que o ameaçam, mas, sobretudo, para fazer crescer a esperança; que tenha sol e luz no coração”. E concluiu: “O lugar do bispo para estar com o seu povo é triplo: ou à frente para indicar o caminho, ou no meio para mantê-lo unido e neutralizar as debandadas, ou então atrás para evitar que alguém se atrase mas também, e fundamentalmente, porque o próprio rebanho tem o seu faro para encontrar novos caminhos.”
O tríplice múnus episcopal, de que fala o ritual das ordenações, de ensinar, santificar e governar, não é uma mera delegação de poder, mas uma comunicação sacramental daqueles mesmos poderes sagrados dos apóstolos, de quem o bispo é sucessor, vinculado a uma série ininterrupta ao longo da história. Consciente do privilégio do chamado e ao mesmo tempo seguro das responsabilidades dele decorrente, nosso bispo auxiliar escolheu por Lema, “OmniaVincit Amor” (O Amor Vence Tudo – Rm 8,35-37). Assim esclarece a descrição heráldica do brasão episcopal: “Trata-se de uma passagem da carta de São Paulo aos Romanos em que o Apóstolo destaca a vitória de Jesus (em Jo 16,33). A vitória de Cristo é vitória nossa, pelo amor que Deus nos demonstrou na obra do seu Filho. O amor é mais forte que a morte e Deus nos ama para além da morte. Deus Pai em sua infinita bondade, pela morte e ressurreição do seu Filho Jesus Cristo, garantiu a nossa vitória por meio do amor vencedor de Cristo. Dom Antônio, no exercício do seu ministério apostólico, quer testemunhar este amor vencedor. Como bispo deseja anunciar o amor de Cristo que é mais forte que o mundo e que a morte. Através do ministério episcopal quer ser testemunha de que esse amor é penhor de ressurreição”.
É no serviço a Jesus Cristo, que se apresenta na face de todo aquele que sofre o peso da injustiça e da dor, nas diversas formas e expressões, que o bispo se sente chamado a exercer o seu múnus. Onde está o bispo, presente está a certeza do poder/serviço, conferido por Jesus à sua Igreja. Assegurada está, a continuidade da vida cristã, uma vez que, somente o bispo pode administrar o sacramento da ordem, gerando novos diáconos, presbíteros e bispos para levar adiante a missão profética e libertadora do Reino de Deus. É conveniente recordar, porém, no espírito do que ensina a catequese quaresmal a que nos referimos inicialmente, que é o sacramento do Batismo que nos abre as portas à participação do Reino. “Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura. Aquele que crer e for batizado será salvo” (Mc.16,15-16ª). Trata-se do sacramento comum a todos e que nos torna igualmente: sacerdote, profeta e rei. Dom José Cardoso Sobrinho, nosso arcebispo emérito costumava afirmar: “Eu gosto de repetir que é mais importante ser batizado que ser padre, bispo ou papa”. É claro que sendo o batismo, sacramento de iniciação cristã, não seria possível receber nenhum outro sem primeiramente tê-lo recebido. É bem conhecida a afirmação de Santo Agostinho: “Atemoriza-me o que sou para vós; consola-me o que sou convosco. Pois para vós sou Bispo, convosco sou cristão Aquilo é um dever, isto uma graça. O primeiro é um perigo, o segundo salvação” (s. 340,1).
Concluo, externando a confirmação de uma aliança com o meu irmão Dom Antônio, extensiva também a Dom Genival Saraiva de França, bispo emérito de Palmares e que temos a honra de tê-lo como nosso Vigário Geral. Trata-se de uma aliança de fraternidade sincera, baseada nos princípios fundamentais do Evangelho. Digo confirmar porque várias vezes manifestamos um para o outro essa intenção. Hoje temos oportunidade firmar solenemente em nossos corações, diante do rebanho que Deus confiou aos nossos cuidados pastorais. Peço a Deus que a nossa unidade seja real e verdadeira, estímulo para todos e bem espiritual e pastoral para nossa missão nessa amada Igreja de Olinda e Recife.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo de Olinda e Recife.

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