quinta-feira, 26 de junho de 2014

# O celibato é uma vida de repressão sexual?

Por Christopher West



Recentemente, um ex-padre católico apareceu em um programa de televisão para defender sua escolha de deixar a Igreja a fim de se casar. Esse sacerdote lutou por vários anos contra o desejo que sentia por essa mulher, até que finalmente decidiu que suas únicas opções eram casar com ela ou reprimir seus desejos sexuais. Segundo sua visão, como ele anunciou para um público nacional, a "repressão" é a única opção para uma pessoa que permanece celibatário.

Isso é verdade? Será que nossas únicas opções quando se trata de desejo sexual consistem em “dar vazão” a ele ou reprimi-lo? De fato, para um mundo que vive ligado à luxúria sexual, o celibato permanente parece absurdo. A atitude geral do mundo para com o celibato cristão pode ser resumida em uma frase como essa: "Ei, o casamento é a única chance "legítima" que vocês cristãos tem de dar vazão a seus desejos. Por que diabos vocês querem desperdiçar esta oportunidade? Vocês seriam condenados a uma vida de desesperada repressão."

A diferença entre casamento e celibato, no entanto, nunca deve ser entendida como a diferença entre ter uma saída “legítima” para a luxúria sexual por um lado, e ter que reprimi-la, por outro lado. Cristo chama todos – não importa a sua vocação específica – a experimentar a redenção da dominação da luxúria. Apenas a partir dessa perspectiva é que as vocações cristãs (celibato e casamento) fazem qualquer sentido. Ambas as vocações – se forem vividas como Cristo pretende – derivam da mesma experiência da redenção da sexualidade.

Em primeiro lugar, o casamento não é uma "saída legítima" para dar vazão a nossas luxúrias e concupiscências sexuais. Como o Papa João Paulo II indicou uma vez, os cônjuges podem cometer “adultério no coração” uns com os outros, se eles tratam uns aos outros como nada mais do que uma válvula de escape para uma gratificação egoísta (ver TdC 43:3). Eu sei que é um clichê, mas por que tantas mulheres reclamam de "dor de cabeça" quando seus maridos querem sexo? Poderia ser porque elas se sentem usadas, em vez de amadas? Isto é a que a concupiscência nos leva – a usar as pessoas, e não a amá-las.




A libertação da dominação da concupiscência – essa desordem de nossos apetites causadas pelo pecado original – é essencial, ensinou João Paulo II, se quisermos viver nossas vidas "na verdade" e experimentar o plano divino para o amor humano (ver TdC 43:6, 47:5). De fato, o ethos sexual cristão “está sempre ligado ... com a libertação, por parte do coração, da concupiscência” (TdC 43:6). E essa libertação é tão essencial para celibatários consagrados e pessoas solteiras quanto o é para casais (ver TdC 77:4).

É precisamente essa libertação que nos permite descobrir o que João Paulo II chamou de “pureza madura”. Na pureza madura “o homem goza dos frutos da vitória sobre a concupiscência” (TdC 58:7). Essa vitória é gradual e certamente permanece frágil aqui na terra, mas é todavia real. Para aqueles agraciados com os seus frutos, abre-se um novo mundo – uma outra maneira de ver, pensar, viver, falar, amar, rezar. A união conjugal torna-se uma agraciada experiência de santidade, ao invés de uma base de satisfação do instinto. E o celibato cristão torna-se uma forma libertadora de um viver sua sexualidade como um “dom total de si” por Cristo e sua Igreja.

João Paulo II observou que a pessoa celibatária deve submeter “a pecaminosidade de sua humanidade aos poderes que emanam do mistério da redenção do corpo ... assim como qualquer outra pessoa deve fazer” (TdC 77:4). É por isso que ele indica que o chamado ao celibato não é só uma questão de formação, mas de transformação (ver TdC 81:5). A pessoa que vive essa transformação não é obrigada a dar vazão a suas luxúrias. Ela é livre com o que João Paulo II chamou de “a liberdade do dom.” Isso significa que seus desejos não estão no controle dele, mas sim, ele está no controle de seus desejos.

Em suma, a autêntica liberdade sexual não é a liberdade de praticar as próprias compulsões, mas é libertação da compulsão de se permitir se entregar à luxúria. Apenas uma pessoa livre assim é capaz de fazer um dom gratuito de si mesmo em amor – seja no casamento, ou em uma vida de devoção consagrada a Cristo e à Igreja. Para a pessoa que é livre dessa maneira, sacrificar a expressão genital da sexualidade em prol de um bem tão grande como o eterno Matrimônio entre Cristo e a Igreja não se torna apenas uma possibilidade: torna-se uma possibilidade bastante atraente.



Traduzido de: http://www.tobinstitute.org/newsitem.asp?NewsID=50

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